“Tivemos granizo e neve, foi um caos”: os moradores da Côte d'Azur participaram da Ultra Trail du Mont-Blanc e contam essa experiência totalmente maluca

Além de serem da Côte d'Azur, esses três tinham uma coisa em comum: não sabiam a temperatura da água quando pularam na parte funda. Na sexta-feira passada, provavelmente não se cruzaram devido à multidão, mas estavam de fato na linha de largada de sua primeira UTMB. A sigla para uma corrida de referência: a Ultra-Trail du Mont-Blanc, com seus 175 km e 10.000 m de ganho de elevação. Uma empreitada estranha.
"Cheguei 1h30 antes da largada e já estava lotado" , conta Vincent Fabre, corredor de trilha radicado (e licenciado) em Tourrette-Levens. Como todos os anos, o centro de Chamonix estava lotado e os 2.500 inscritos estavam prontos para encarar o mito. Considerada um dos quatro monumentos da corrida de trilha (junto com a Diagonale des Fous, a Western States e a Hardrock 100), a UTMB não abre os braços para qualquer um. Enquanto alguns a veem como uma corrida de massa cara, outros sonham em participar e não se arrependem depois de vencer o desafio.
Chuva, granizo e neve"É difícil resumir em apenas uma palavra, mas é inesquecível", diz Catherine Tomasoni (44), também membro da Trilha Dinâmica em Tourrette-Levens. "É uma aventura, uma verdadeira trilha de alta montanha!"
O que reserva surpresas e armadilhas nem sempre fáceis de evitar. "Quando você já subiu 7.000 ou 8.000 metros, o que resta é complicado", admite Nicolas Allemeersch, um jovem de 30 e poucos anos de Cannes. "A descida depois de Vallorcine foi realmente difícil (cerca de 160 km). Havia pedras e raízes grandes, você não conseguia correr. E quando você já tem mais de 20 horas de corrida, você não está mais tão lúcido."
"O mais impressionante foram as condições climáticas durante a noite", diz Vincent Fabre (28). "Choveu até o km 50. Também tivemos granizo e neve. A temperatura estava em torno de -6 graus." O suficiente para fazer cócegas na mente. "Foi um caos em um dos postos de atendimento! Dá para ver os rostos das pessoas já marcadas depois de 30 km, todos com frio, tremendo, sem sorrisos... Os comissários nos obrigaram a vestir roupas quentes. Aquele trecho realmente te deixou em forma. Como se dissessem: 'É isso, é disso que se trata a UTMB!'"
Trombetas e disfarcesPor razões de segurança, os organizadores decidiram planejar parte do percurso. Muitos corredores de elite até desistiram. "As trilhas estavam cheias de lama", descreve Nicolas Allemeersch. Os fãs, no entanto, não se intimidaram: a "corrida de bairro", como alguns a chamam, atrai milhares de fãs. Trombetas, bandeiras e fantasias animaram o percurso. "Foi incrível", explica Fabre. " Mesmo na chuva, em altitude, alguns estavam fazendo fondue! Você nunca está sozinho; é como estar no Tour de France (risos). Às vezes, nem havia trilha: as pessoas estavam no meio das trilhas e se afastavam quando você chegava. Você se sente como se fosse a maior corrida do mundo, a capital do trail running!"
"Você é recebido como um rei."Mais atrás no pelotão, Catherine Tomasoni recebeu apoio quase idêntico. E gostou da interação com as outras almas corajosas. "Seja você da elite ou um atleta desconhecido, é a mesma coisa. Nos refúgios, você é recebido como um rei. E é uma corrida global, você vê a diferença: há chineses, japoneses, etíopes..."
Todos estavam em pé de igualdade, ou quase. Classificado entre os melhores, o amador Vincent Fabre teve a honra de correr por alguns minutos com Courtney Dauwalter, uma lenda da modalidade. "É ela quem vem falar com você, não o contrário. Ela é muito aberta! Foi uma loucura, você pensaria que ela estava feliz. Ela não estava avançando, mas estava feliz (sorriso)." Como todos aqueles que cruzaram a linha de chegada, conscientes de terem sido embalados pela aventura de uma vida.
RESULTADO: Nicolas Allemeersch terminou em 32º lugar entre 1.664 finalistas (24h08'08''), Vincent Fabre em 48º (24h56'33'') e Catherine Tomasoni em 1.545º (46h17'53'').
Nice Matin